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Ancoragem de aço fundido? cuidado!

Ancoragem de aço fundido é motivo real de preocupação devido ao método de fabricação das peças, no Brasil faz muitos anos assistimos o mercado absorver diversos novos fabricantes de ancoragens Tipo A, conhecidas também como “Esperas de Ancoragem”, “Ancoragem predial” ou simplesmente “olhais de ancoragem”. Como ocorre com uma grande parte da indústria nacional, estes novos fabricantes são pressionados por uma guerra de preço causada em grande parte por eles mesmos e o caminho que a maioria escolheu para redução de custos, é um que tem nos preocupado bastante.

Acredito que muitos tenham escutado os termos “Fundido” e “Forjado” diversas vezes antes. Para quem tem mais intimidade com processos de fabricação e quem costuma comprar materiais de aço e ligas, sabe que produtos fundidos costumam levar má fama. Mas porque?

Ancoragem de aço fundido ou forjado: processo de fabricação

Para esclarecer o problema, precisamos entender um pouco, como estes processos produtivos se diferenciam.

Peças de ancoragem de aço fundido

São fabricadas aquecendo-se o metal ou a liga, ultrapassando seu ponto de liquefação e vazando-o em um molde de fundição no formato da peça a ser fabricada. Este processo pode gerar diversas descontinuidades no material como bolhas, porosidades, rechupes e inclusões.

Na fundição a probabilidade de ocorrência de defeitos metalúrgicos é grande e torna-se necessário a utilização de ensaios para detectar estes problemas o que eleva o custo final do produto, quando comparado ao forjamento. Mas se desconsiderarmos os ensaios necessários para o controle da qualidade das peças de ancoragem de aço fundido, o custo cai drasticamente em relação a peças forjadas, mas traz uma grande preocupação!

Peças de ancoragem de aço forjado

Peças forjadas são fabricadas partindo-se de lingotes, neste caso específico lingotes de aço. O forjamento pode ser feito a quente (acima da temperatura de cristalização) ou a frio. A escolha depende das características da peça, como material, dimensões, etc. No caso dos olhais o processo utilizado é a quente. No forjamento a quente os lingotes são aquecidos a uma temperatura muito inferior ao ponto de liquefação e através de operações aplicando-se forças de compressão, o material é conformado. Neste processo empregam-se prensas e ferramentas que garantem o formato da peça final, chamados de matrizes ou estampos. Este processo garante uma “compactação do material”, refinamento dos grãos, conferindo ao material maior resistência e alta ductilidade. A probabilidade de ocorrência de defeitos é bem menor do que na fundição, pois se o lingote de aço possuía algum defeito, o processo de forjamento tende a eliminar eventuais defeitos provenientes do lingote.

Um fator determinante na definição da resistência mecânica superior das peças forjadas é que durante o processo de conformação ocorre um direcionamento e uniformização das fibras compostas pelos grãos do material. Já no material fundido, os grãos se acomodam de forma irregular, dependendo muito da forma da peça, dos métodos de fundição e de resfriamento.

Um artigo da Universidade de Toledo em Ohio, nos dá alguns números interessantes:

  • Partes forjadas possuem 26% a mais de resistência a tração do que peças fundidas. Dessa forma obtemos peças que possuem capacidade de carga significantemente superior;
  • Partes forjadas possuem 37% a mais de resistência a fadiga. Isto se refere ao carregamento contínuo da peça. Em outras palavras, uma peça forjada possui vida longa;
  • Peças fundidas possuem apenas 66% da força de escoamento do que peças forjadas. O limite de escoamento é o indicador onde a peça começa a deformar antes de romper;
  • Peças forjadas tiveram 58% de redução em sua área durante testes de ruptura. Peças fundidas tiveram apenas 6% de redução dando poucos sinais de que a peça iria romper.

 

Leia Também: Dispositivos de ancoragem NBR 16325 – quais são os tipos?

Já que estamos falando de equipamentos de segurança, você não preferiria ver a ancoragem deformar antes de ver ela rompendo? Melhor deixar as surpresas para lá. Ancoragens fundidas dão pouco ou nenhum sinal antes do rompimento completo. Além disso diversos procedimentos de segurança como END’s – Ensaios Não Destrutivos – que deveriam ser adotados para estes métodos de produção, mas não estão sendo utilizados.

Para exemplificar melhor, vejam alguns exemplos da indústria automobilística que produz rodas de liga tanto forjadas quanto fundidas. O mercado paralelo de rodas fundidas com preços muito abaixo de rodas de marcas conhecidas tem ganhado muito espaço justamente pelo preço atrativo, mas as consequências são estas:

Ancoragem de aço fundido - roda de exemplo fundido

Já as rodas produzidas através do processo de forja, se comportam de maneira muito diferente:

Ancoragem de aço fundido - roda de exemplo forjado

Como podemos ver, peças fundidas podem falhar drasticamente sem dar sinais:

Ancoragem de aço fundido

Peças forjadas, além de possuírem propriedades mecânicas muito superiores, nos dão diversos sinais antes da ruptura, alongando e esticando dentro da tolerância de deformação plástica:

Conclusão

Quando o assunto é segurança e a vida de pessoas, economia e redução de custos sem estudos técnicos, não podem ser considerados antes da preocupação com a qualidade do que estamos adquirindo. Ao comprar dispositivos de ancoragem, consulte a opinião de um profissional especializado no assunto.

https://sindiforja.org.br/forjamento/comparando-processos/
https://blog.cmworks.com/forging-vs-casting-which-is-better/
https://www.forging.org/uploaded/tinymce/media/Fatigue.pdf
https://www.tornibras.com.br/forjado.html
https://www.alllifting.com.au/blogs/news/how-often-do-you-need-you-lifting-gear-inspected
https://www.osha.gov/doc/engineering/images/2014_r_05/2014_r_05_fig33.jpg
https://www.carthrottle.com/post/what-is-it-that-makes-fake-wheels-so-potentially-dangerous/
https://factor55.com/wp-content/uploads/2017/03/Hook-test-by-SuperWinch.jpg

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